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Ocupação:

O Lugar da Família Brasileira

Foto: Mandy Oliver

Ao contrário do que muitos críticos pensam, as ocupações não são lugares de vagabundos. Para quebrar essa falácia, trazemos um espelho do tipo de pessoa que ocupa o edifício SulAmérica.

 

A família Moura é um exemplo da família tradicional brasileira. Mas não a do tipo que passa nas telenovelas, mas aquela que tinha sua casa em uma área de risco, que foi obrigada a viver em um barraco após o desabamento e hoje encontra na ocupação feita em um prédio abandonado há 10 anos a sua única chance de uma vida digna.

Fernanda Moura tem 33 anos, trabalha em um Call Center e é mãe de dois filhos (Marley, de 12 anos, e Mariana, de dois anos). Ela chegou no SulAmérica na manhã seguinte à ocupação. 

Antes da Marielle Franco, estava em uma ocupação no Coque. Lá, morava em um barraco. Foi de lá que o marido saiu em um ônibus do MTST com outros homens que fizeram a linha de frente na noite da ocupação. Fernanda deixou seu lar, mas não pôde acompanhar seu esposo, pois teve que cuidar de Mariana, que estava doente. Saiu direto da emergência do SUS para encontrar o que seria seu novo lar.
 

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Foto: Victor Augusto

Como é ser mãe em uma ocupação?

"Não é fácil. São muitas pessoas diferentes. Somos de comunidade, temos as mesmas dificuldades e condição financeira baixa. Mas apesar disso são muitas educações diferentes. Isso nos obriga, eu e meus filhos, a lidar com o diferente.

 

Antes do Coque, estávamos em uma barreira que caiu no Ibura. Aqui é diferente, é um prédio, onde existem várias famílias em cada andar. Estranhamos a falta de privacidade, mas aos poucos a gente vai se adaptando. Já que estamos todos no mesmo barco, tetamos nos unir e aprender um pouco mais."

Como é o aprendizado?

"Aqui, nós desenvolvemos uma consciência política, coisa que não tínhamos antes. Aprendemos sobre nossos direitos com assistentes sociais e psicólogas. Tem muita gente aí na rua que tem direito à muita coisa, mas não corre atrás porque não sabe." 

Como é ser mulher em uma ocupação liderada por mulheres?

"Como a Ocupação é liderada por mulheres e a própria liderança do MTST é formada por mulheres, a gente aprende com elas a não baixar a cabeça, não levar grito, a nos defendermos e usarmos o que quisermos onde quisermos. Ou seja, aprendemos que temos direitos iguais, igual a eles. Os homens, por sua vez, aprendem que tem que ajudar dentro de casa, seja lavando o prato ou cuidando de uma criança."

E o que você quer?

"A gente não quer viver disso pra sempre, de doação. Queremos a vara para poder pescar. Se não for aqui, que seja em um outro lugar digno, onde tenhamos acesso às coisas, como saneamento básico, estudo, fazer uma faculdade e ir a pé - uma vez que com um salário mínimo não dá pra pagar uma passagem tão cara.

Aqui, na Marielle Franco, temos acesso a tudo. Meu filho tá numa escola aqui no Centro que é muito boa. Além disso, os postos de saúde daqui são melhores que o da periferia."

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